quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Adubando o Chão

Deixamos de ensinar os pequenos a pensar...quando paramos? Sabemos pensar, nós adultos? A construção do pensamento desde os mais remotos tempos nos trouxe até aqui. Que tipo de pensamento?  Foi uma estrada retilínea? Ou podemos pensar em uma imagem espiralada com meandros e medidas irregulares? E como a escuta do outro se fez e se faz no mundo? Sabemos escutar, nós adultos? Como lidar com tal incoerência, se muito provavelmente, muitos dos que lerem estas palavras ficarão um tanto quanto ressabiados se, ao investigarem profundamente, suspenderão suas respirações ao ver o tamanho da responsabilidade do ato de educar e responderão que não sabem pensar, nem tão pouco escutar.


Frente a esta imagem talvez não muito animadora, mas para muitos, ainda bem, muito desafiadora, abre-se uma cauda de pavão enorme, com cores e movimentos reais, com possibilidades reais. Sim, sou mãe.  Sou educadora, portanto. Sob a ótica pedagógica, paidós (criança) e agogé (condução), sim, conduzo crianças.  Mesmo aquelas que não são minha cria, que não saíram das minhas entranhas.  Levar pela mão um ser totalmente ingênuo, no sentido mais científico da palavra, requer observação. Estaria a observação casada com a escuta? Quando ensinamos um valor social, uma capacidade qualquer a um indivíduo, me pergunto o que estamos embutindo nas nossas palavras ou nos exemplos que escolhemos dar. O quanto de nós, mergulhados no mundo há mais tempo do que estas crianças, contamina, mais voltado para o senso de transmissão, uma suposta verdade a ser revelada? A questão precisa de chão. Quero dizer que um turbilhão de idéias surge nestes pequenos centímetros de palavras corridas, nas mais diversas dimensões: idéias sobre uma verdade cultural, social, religiosa, psicológica, filosófica e por aí vai.  E que é preciso, penso, assentar e não arrefecer estas possibilidades, diminuindo sua força, em um solo que muitos possam se enxergar como seres humanos. A experiência de educar, quem já a teve e a reconhece como tal, e temos isto o tempo todo no cotidiano, poderá talvez concordar que existem pontes de transmissão diferenciadas para cada indivíduo.  Então, o que parece existir em comum entre as formas de ensinamento? Tomo a sedução como exemplo.  A sedução no sentido mais amplo, em que algo profundo e excitante se apresenta para o outro, soando apenas como um convite: vamos comigo?  me acompanha?  pelo menos até você poder trilhar este chão sozinho?


Este chão, em que repousam, transitam, tantas idéias, me parece que está sempre em construção. Há uma linguagem segura para o aprendizado e algumas pessoas perceberam isto. Claro, Paulo Freire, já citado aqui, aponta brilhantemente para, ao mesmo tempo uma ponte e um solo flexíveis, maleáveis de se trafegar no ato de educar, evitando-se a travessia de um enorme contingente de crianças e educadores, ao longo de um árido deserto:

 "Educar é um ato de amor, e para educar crianças é necessário, sobretudo, amá-las profundamente".


Será que para escutar, não precisamos estar apaixonados, no sentido de pathos, no sentido do assujeitamento?

- Rita de Cassia Aragão

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