quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Marcha Soldado


Esperei o Sete de Setembro passar para ver se me largavam esses pensamentos de Mafalda, não aconteceu é mais forte que eu, e o jeito de me livrar de pensamentos assim, é compartilhando-os, de modo que pergunto: que sentido faz celebrar o grito dado por certo príncipe regente, o “menino” D. Pedro, às margens de um rio chamado Ipiranga, se não participamos do processo que levou à pseudo-independência do Brasil naquela época, e se continuamos a não participar dos processos que definem o Brasil hoje enquanto nação?

Se estiver errada é favor corrigir, mas o que conta a história oficial (e esse nome de história oficial, indicando que existe e é sabido por todos, uma história não oficial da qual não tratamos, por si me eleva os espíritos um pouco) é que o português Príncipe Regente, considerando as conveniências da classe dominante no Brasil, assim como seus próprios interesses enquanto membro da família real portuguesa, proclama uma independência que olhando cuidadosamente para o cenário da época, não correspondia ao significado da palavra “independência”, ao menos não em sua totalidade. O que reflete no projeto de nação que temos hoje, sem dúvida.

“Sete de setembro foi o dia em que o Príncipe Regente D. Pedro proclamou a independência do Brasil enquanto colônia de Portugal. Esse dia ficou marcado pelo grito “Independência ou morte!”, dado pelo monarca às margens do rio Ipiranga. Até hoje comemoramos essa data tão importante para a nação com desfiles cívicos e paradas militares.”   

“Foi sete de setembro, foi? Mais era só gritar e pronto?!” Fico ouvindo minha criança perguntar. Não, não foi só isso, nem bem assim, as histórias que podemos contar e, no mais das vezes as que sabemos sem muito esforçar, são construídas para informar sem transformar. São mornas, não envolvem, emocionam aos que tem os nervos à flor da pele (até hoje meus olhos orvalham quando ouço o hino nacional), não comprometem. Quem hoje, e estou falando com meus ilustríssimos colegas professores, conhece menos que o raso de um episódio histórico marcante? Quem de nós se deu conta de que, o que é pontuado na história, em todas as histórias, é sempre uma versão? Notem, uma versão de determinado momento histórico que não surge do nada, está, certamente, contextualizado num cenário que chegou até ali por processo.

Aliás, para chegarmos a esse modo de pensar, a esse fluxo de pensamento, temos de estar com a mente em dia, exercitando nossas capacidades intelectivas sempre, aprendendo numa constante para podermos cumprir dignamente nosso compromisso de ensinar.

Tenho pensado muito sobre a noção que não compartilhamos em relação à nação que temos. A Lei de Gerson se estabelece como a ordem do dia, é o que repetimos para os nossos filhos, mesmo ensinando diferente aos nossos alunos. Outra questão curiosa, à qual darei atenção num outro texto, qual seja: por que tantos discursos distintos num mesmo cidadão?

Sei, enquanto antropóloga, que existem muitas nuances a se explorar nesse sentido, o texto aqui apresentado é raso, mas por agora gostaria de deixar o convite, senão a súplica, a todos os que lêem este blog, de estudarmos mais, de buscarmos saber o que está por trás do que nos foi dito, de procurar aprofundamento nos conteúdos que ensinamos aos nossos alunos, aos que estão aí para garantir o nosso futuro. 

“Independência ou morte!” Será isso mesmo? Você aí, sabe do quê, e por que está falando?

- Elis Barbosa

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